Chapada: Brigadistas reclamam de articulação entre aeronaves e trabalho de campo

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Oito aviões, sendo quatro Air Tractor contratados pelo governo do Estado, dois da Força Aérea Brasileira (FAB) e dois Air Tractor do Instituto Chico Mendes de Conservação de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de dois helicópteros enviados pelo governo e um do ICMBio. Apesar das dez aeronaves deslocadas para a região da Chapada Diamantina, os brigadistas voluntários que combatem os focos de incêndio que atingem a região reclamam da falta de interlocução com as brigadas em campo.

“Nós temos uma crítica: apesar do número de aviões, o uso está desarticulado”, aponta Diego Serrano, conselheiro da Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (Bral), que tem enviado entre 25 a 30 voluntários por dia para trabalhar no combate às chamas. “O problema está no uso dos equipamentos enviados pelo governo, pela FAB, que não tem sido feita com as brigadas em campo. Os trabalhos são complementares: o avião lança água, esfria o fogo, com a brigada próxima para debelar o fogo”, explica o engenheiro ambiental, que representa a entidade no Conselho de Meio Ambiente de Lençóis.

De acordo com Serrano, a Bral recebeu relatos dos brigadistas de que os aviões estavam “jogando água no lugar errado” no primeiro e no segundo dia de operação – ou seja, quinta e sexta-feira. Além disso, os aviões pouco têm sido vistos pelos voluntários. “O governo tem dito que já investiu R$ 7 milhões, sendo R$ 6 milhões só para a Chapada. Com R$ 6 milhões a gente tinha estrutura suficiente para fazer monitoramento por cem anos na Chapada. A gente não viu esses R$ 6 milhões voando no ar, nem em contigente de terra. Isso está me deixando indignado”, reclama.

Ele estima que apenas no primeiro dia foram consumidos 1.000 hectares, área equivalente a 925 campos de futebol. Em cálculo feito às 10h desta segunda-feira (16), a Bral estima que 3 mil hectares já foram atingidos pelos incêndio. “É mais do que isso, mas optamos por um cálculo conservador”. As últimas informações divulgadas pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema) dão conta de mais de 2 mil hectares.

“Infelizmente ultrapassa 2 mil hectares. Os prejuízos que nós verificamos, embora toda a concentração de toda a operação neste momento está em combater os focos de incêndios que ainda existem, estão relacionados a perdas ambientais de fauna, flora. Isso compromete a questão de nascentes, margens de rios, e, portanto, vai ter uma perda bastante considerável, e de certa forma inestimável”, avaliou o titular da pasta, Eugênio Splenger, que está na região desde o último sábado para acompanhar de perto os trabalhos.

Além dos cerca de 50 brigadistas, aos quais se somam os da Bral, 57 soldados dos bombeiros atuam no controle da área, somando-se a 14 oficiais que assumem a coordenação e comando e sete técnicos da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). O trabalho dos brigadistas enfrenta diversas dificuldades, conforme relata Serrano.

“Não é fácil combater o fogo, dificilmente vamos combater, com o equipamento que for, o contingente que for. O que nós fazemos é atrasar o avanço do fogo à espera das chuvas, porque realmente o cenário que a gente vê só a chuva”, explica. Em campo, os voluntários utilizam basicamente dois equipamentos: os abafadores manuais de incêndio e uma bomba costal de água, com capacidade de apenas 20 litros, que são abastecidos em córregos ou rios – se houver algum próximo – e em carros-pipa, caso o foco de incêndio esteja próximo a estradas, onde esse tipo de veículo ainda tem acesso. Se o local não se enquadrar em nenhuma das duas condições, resta ao brigadista retornar à base de apoio para abastecer a bomba e as energias.

“Por isso os aviões e helicópteros fazem muita diferença, se se articularem com as brigadas, fazem toda a diferença. Os aviões tem uma bolsa de água e jogam no fogo ou, quando os brigadistas estão em lugares remotos, levam suprimentos”, explica Serrano. Com o apoio das aeronaves, os brigadistas podem acampar no local, ganhando tempo, já que as chamas controladas no período noturno podem ganhar novo fôlego durante o dia. “Está muito quente e a vegetação está muito seca”, cita.

Quando as labaredas mais altas são apagadas, resta ainda um trabalho com menos visibilidade: o rescaldo e o combate ao chamado “fogo de turfa”. O rescaldo envolve as ações que impedem a reignição do foco por meio das cinzas e brasas, retirando materiais que podem incendiar como folhas secas. “É quase uma jardinagem”. O fogo de turfa, registrado em áreas de nascente e margens de rios, por sua vez, é uma das prioridades da Bral.

A turfa é uma camada de material orgânico que permite o desenvolvimento de árvores de grande porte e vegetação mais densa. “O fogo de turfa mais danoso, mata as árvores centenárias, queima o subsolo e acaba deixando a beira do rio na rocha”. Este efeito é um dos motivos que move o engenheiro florestal a integrar a brigada.

“O que me move é o comprometimento pessoal. Até pela profissão, tenho uma visão técnica de fogo, que não permite que aquele ecossistema, que aquela vegetação avance, não permite plantas maiores se fixarem”, afirma, para acrescentar. “Essa áreas de floresta levam mais de 40 anos para se formar e o fogo leva tudo praticamente para o zero. Quando eu vejo áreas queimadas eu vejo um processo ecológico que não consegue avançar”, explica. Fonte BN

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