Com passagem marcada para Coimbra (Portugal) no próximo dia 5 de setembro, caso o
passaporte esteja regularizado até lá, a jovem Leila Aparecida Cordeiro Lopes vai
estudar por dois anos no exterior após ser contemplada com uma bolsa de intercâmbio
cultural entre a Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde cursa Direito, havia dois
anos. Ela foi contemplada através de um concurso de seleção do Programa de
Mobilização Internacional em Direito em Regime de Dupla Titulação, intercâmbio
cultural, o qual que foi a vencedora entre várias participantes na condição de uma única
vaga para alunos cotistas.
A jovem, depois de “ralar” pesado para iniciar seus estudos, ainda com apenas 4 anos,
na simples escolinha da comunidade humilde de Vila Nova, região de Gado Bravo, e
incentivada pela tia que é professora, moradora vizinha à casa de seus pais, logo saiu do
período de alfabetização e o ensino fundamental de uma escola multisseriada, a Escola
Municipal Cláudio Manoel da Costa, passando a estudar e concluir o ensino médio no
Colégio Estadual João Vilas Boas. Aos 16 anos, foi aprovada no exame do ENEM e
logo em seguida fez prova para vaga em Direito na UFBA, também sendo aprovada
com mérito, ganhando da universidade o bolsa auxílio-alimentação e passando a ser
residente na Casa dos Estudantes de Livramento, em Salvador, capital do estado, desde
2015.
Leila Aparecida Cordeiro Lopes diz que se sente feliz, mas sabe que ainda está no meio
do caminho para fazer sua desejada graduação. O que quer, agora, é colher os resultados
de sua aprendizagem, adquirida durante sua passagem de menina simples do interior de
uma escola pública e que alcança a universidade e ganha desta uma valiosa bolsa de
intercâmbio cultural entre nações. Leila Aparecida Lopes ganhou uma das três bolsas de
estudos oferecidas pelo intercâmbio no exterior, realizando, com sucesso, três provas
disputando com doze colegas, na primeira fase, com quatro na segunda e apresentação
de monografia memorial acadêmica de sua autoria.
Lançadas, via edital, entre os meses de maio e junho, a universitária recebeu a boa
notícia no dia 28 de junho. A jovem, que agora tem 18 anos, é filha de um casal de
agricultores, Marli Aparecida Cordeiro e Raimundo Aparecido Lima Lopes, a quem ela
revela ter sido sua inspiração e incentivadores. Quando criança, como seus pais tinham
que trabalhar na sua pequena lavoura, Leila Cordeiro Lopes ficava em companha de sua
tia, que ainda ensina na escola da comunidade, mas que agora foi reformada e ampliada.
Em sua companhia, ela foi desenvolvendo seu aprendizado, o que surpreendeu pela
desenvoltura. Ao entrar no ensino fundamental foi estudar com alunos de várias idades e
período escolar, mas continuava surpreendendo.
Quando veio estudar na cidade, incialmente no turno vespertino, transferiu-se para o
período matutino, sempre na mesma escola (João Vilas Boas), em idas e vindas diárias,
transportada em ônibus escolar. Ao concluir o terceiro ano do ensino médio, e após ser
aprovada no ENEM e em seguida no curso de Direito da UFBA, ficou apreensiva e
preocupada porque teria que estudar e morar fora de sua cidade. Afinal, os custos
mostravam-se altos e a família não tinha recursos para pagar suas despesas.
Longe de casa e dedicando-se exclusivamente aos estudos, Leila Cordeiro Lopes
contava apenas com a ajuda financeira de seus pais. Com ela, podia bancar apenas as
passagens de ônibus para seu deslocamento e outras necessidades. O almoço no
bandejão da universidade, foi garantido graças ao auxílio-alimentação doado pela
mesma unidade de ensino superior, o que lhe trouxe um pouco mais de tranquilidade e
ela pôde se dedicar plenamente aos estudos. Na própria UFBA, aprofundou-se em
pesquisas, o que lhe rendeu a iniciativa de se inscrever para os editais de promoção de
bolsas de intercâmbios culturais.
A jovem estudante, hoje, diz se sentir realizada. E não apenas por suas conquistas
pessoais, mas pelo exemplo de superação que dá aos seus pais e colegas e à
tranquilidade que pode dar à própria família – além de retribuir o incentivo que recebeu
dos pais. Sabia que para se manter como aluna residente na Casa dos Estudantes, em
Salvador, teria .que trabalhar em qualquer atividade e acabou sendo empregada em um
grande supermercado da cidade. “O que ganhava era todo direcionado para as despesas
que iria ter com meus estudos em Salvador. Abdiquei de tudo, inclusive de namoros e
festinhas”, revela com um sorriso atípico de menina criada em zona rural. Por isso, não
deixa de ficar apreensiva com o que vai enfrentar a partir de sua ida ao exterior, já que
pouco sabe sobre Coimbra, que já foi a primeira capital de Portugal.
“É o estudo que vai colocar onde você almeja chegar. É a única coisa que ninguém lhe
tira”, aponta, concluindo ser uma honra ter sido vencedora desta bolsa, “pois, assim,
quando voltar a concluir a minha formação acadêmica, vou atuar sempre voltada para a
área das pesquisas, o que, inclusive, irá decidir o que vou querer fazer, além do Direito.
Uma cosa é certa, vou fazer doutorado, pois quero ser doutora, independente de minhas
conquistas acadêmicas”, finaliza Leila Cordeiro Lopes.