Quinze dos 20 políticos cotados para disputar a Presidência em outubro são alvo de mais de 160 casos em tribunais do país inteiro. De barbeiragem no trânsito a imbróglios na Lava Jato, os pré-candidatos são investigados, denunciados, réus, condenados e até presos, como o caso do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas eleitorais.
De acordo com um levantamento feito pelo jornal Folha de SP, oito presidenciáveis enfrentam a Lava Jato e suas derivações em tribunais superiores, federais e estaduais. A lista inclui Lula, condenado a 12 anos e um mês por corrupção passiva, e o presidente Michel Temer (PMDB), alvo de duas denúncias e de duas investigações. Já entre os candidatos que estão no Legislativo, o senador Fernando Collor (PTC) é réu na Lava Jato e alvo de quatro inquéritos enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), é investigado em dois inquéritos na maior operação de combate à corrupção da história do país.
Com exceção de Lula, que tem até 31% das intenções de voto, Temer, Collor e Maia não ultrapassam 2%, segundo o Datafolha. A condenação e prisão de Lula praticamente inviabilizaram sua candidatura, o que eleva os petistas Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner ao posto de “plano B” do partido. Contra Haddad há uma investigação aberta por suposto caixa dois, em decorrência da delação do empresário Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, um dos delatores da Lava Jato. Já contra Wagner, o ex-governador foi alvo da Operação Cartão Vermelho, que apura suspeita de propina na reforma da Arena Fonte Nova (lembre aqui).
Outros dois outros casos foram enviados para o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná. Do lado tucano, Geraldo Alckmin (PSDB) é investigado por crimes relacionados a improbidade administrativa em que teria recebido caixa dois de mais de R$ 10 milhões. Delatores da Odebrecht afirmam ter direcionado o dinheiro à campanha do tucano ao governo paulista em 2010 e 2014. O caso do ex-governador de São Paulo foi encaminhado à Justiça Eleitoral. Um segundo grupo de presidenciáveis que responde por declarações que podem ser consideradas crime é puxado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL), um dos líderes na corrida ao Planalto na ausência de Lula.
Bolsonaro responde por duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de injúria e incitação ao estupro, além de uma denúncia por racismo por palestra em que criticou quilombolas. O deputado foi condenado neste último caso, em primeira instância, a pagamento de indenização de R$ 50 mil. Ciro Gomes (PDT) é campeão, em volume, de casos na Justiça. Ele acumula mais de 70 processos de indenização ou crimes contra a honra, movidos por adversários. Temer, chamado de integrante do “lado quadrilha do PMDB”, é um deles. O pedetista foi condenado em primeira instância e recorreu.
O ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa (PSB), que chega a 10% das intenções de voto, foi condenado por danos morais por ter afirmado que um jornalista “chafurdava” no lixo. O levantamento da reportagem localizou ainda casos como o de Guilherme Boulos (PSOL). Além de processos relacionados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, do qual é líder, Boulos teria batido, em setembro, na traseira de uma moto, arremessando-a contra a traseira de outro carro, segundo o boletim de ocorrência do caso. O dono do outro veículo disse à Justiça que Boulos prometeu falar com seu advogado sobre o conserto. “Desde então o requerido [Boulos] não mais atende suas ligações.” O número de 160 investigações e processos pode ser maior porque o levantamento não inclui ações em segredo de Justiça, processos trabalhistas e eventuais ações movidas na Justiça de primeira instância de estados que não são os de origem ou atuação política do presidenciável.
Em resposta a matéria da Folha, o advogado de Jair Bolsonaro, Gustavo Bebianno afirmou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) agiu com viés político na denúncia sobre racismo e que o deputado fez apenas uma brincadeira. “O Jair é contrário a qualquer tipo de cotas. O que aconteceu no passado, com índio, negro, seja lá quem for, tem que ficar no passado. A gente tem que construir é daqui pra frente, um Brasil igualitário”. Já sobre acusação de incitar estupro, a defesa afirmou que Bolsonaro só revidou a agressão, em momento de cabeça quente.
A assessoria de Geraldo Alckmin disse que está à disposição para esclarecimentos e que tem “total consciência da correção de seus atos”. Ciro Gomes declarou, via assessoria, que não teve o nome citado “na Lava Jato nem em qualquer roubalheira” e que todos os processos estão relacionados a opiniões, não a desvio moral. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, respondeu dizendo que tem prestado os esclarecimentos necessários e que confia na Justiça. Guilherme Boulos afirmou, via assessoria, que “o próprio autor da reclamação diz que quem atingiu o veículo dele foi um motociclista, que teria fugido depois do acidente”. As defesas de Lula e as assessorias de Michel Temer e de Fernando Collor, alvos da Lava Jato, não quiseram se manifestar. Joaquim Barbosa também não quis se pronunciar.BN