O presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (9) que a partir do ano que vem ele tomará conhecimento do conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) antes da aplicação da prova.
Bolsonaro deu a declaração em uma transmissão ao vivo no Facebook ao falar sobre uma questão no Enem deste ano que abordou o pajubá, conjunto de expressões associadas aos gays e aos travestis.
“Esta prova do Enem – vão falar que eu estou implicando, pelo amor de Deus –, este tema da linguagem particular daquelas pessoas, o que temos a ver com isso, meu Deus do céu? Quando a gente vai ver a tradução daquelas palavras, um absurdo, um absurdo! Vai obrigar a molecada a se interessar por isso agora para o Enem do ano que vem?”, indagou o presidente eleito.
Segundo o presidente eleito, ele está “em vias” de anunciar o nome do futuro ministro da Educação. O perfil do novo titular da pasta, acrescentou, será de alguém com “autoridade” e que entenda que o Brasil é um país “conservador”.
“Queremos que na escola a molecada aprenda algo que no futuro lhe dê liberdade, que ele possa ganhar o pão com trabalho, não fique com essas questões menores que a gente vê por aí de ideologia de gênero. Qual a importância disso? Vai ser feliz, cara! Se você quer se feliz com outro homem, vai ser feliz! Se você é mulher e quer ser feliz com outra mulher, vai ser feliz”, disse.
“Mas não fiquem perturbando isso nas escolas, obrigando a criançada a estudar besteira que não vai levar a lugar nenhum. Quem ensina sexo é papai e mamãe, pronto e acabou”, completou.
O Enem
O Enem é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma autarquia do Ministério da Educação, desde 1998. Em 2009, se transformou em um exame para ser usado como acesso ao ensino superior. Mas usa uma metodologia diferente dos vestibulares tradicionais e, por isso, as questões não são todas elaboradas por uma mesma equipe: são retiradas de um banco de itens com milhares de questões já feitas durante vários anos por muitos professores.
Todos os anos, um grupo menor do Inep seleciona as questões para elaborar três versões diferentes da prova. Duas delas são aplicadas todos os anos: a primeira aplicação regular é aplicada em dois domingos seguidos (o passado e o próximo) e teve 5,5 milhões de inscritos. Uma segunda será aplicada em dezembro para presos, e uma terceira fica como “reserva”, para o caso de algum imprevisto.
“Atualmente, por procedimentos previamente definidos para garantir o sigilo do Exame, apenas o Inep e parte da equipe da Gráfica contratada pelo INEP têm acesso à prova em ambientes restritos dentro do Inep e da gráfica. Todo processo de produção da prova conta com consultoria especializada de empresas de gestão de riscos que atestam a conformidade das etapas e indicam procedimentos que devem ser seguidos com vistas à manutenção do sigilo”, informou o Inep, em nota.
Direitos trabalhistas
Ainda durante a transmissão, Bolsonaro afirmou que no Brasil “tem direito para tudo, só não tem emprego”.
No momento em que fez a afirmação, o presidente eleito falava sobre direitos trabalhistas e a reforma da Previdência Social.
“É difícil abrir negócio no Brasil. […] Aqui no Brasil, o país dos direitos, tem direito para tudo, só não tem emprego. Já vai a esquerda dizer ‘ele quer acabar com direito trabalhista’. Antes que vocês falem besteira, este pessoal da esquerda e alguns órgãos da imprensa também, dizer que os direitos trabalhistas estão lá na Constituição, está cheio de direito lá, só os militares que não têm ali. Tem uns 30 direitos e não tem como tirar”, afirmou.
“Não vou dar murro em ponta de faca, é cláusula pétrea. Mas você tem tanto direito e você não tem emprego. É muito simples isso daí”, acrescentou.
Previdência Social
Sobre a reforma da Previdência Social, Bolsonaro afirmou que os gastos do INSS têm subido “assustadoramente” e por isso será preciso “rever alguma coisa”.
Em 2016, o presidente Michel Temer enviou uma proposta de reforma ao Congresso Nacional. O texto chegou a ser aprovado em uma comissão da Câmara, em maio de 2017, mas não avançou desde então por falta de consenso entre os partidos.
“Tem que se rever alguma coisa? Tem. […] O que eu tenho falado é que eu gostaria de dar mais direitos para todo mundo, quem não gosta de dar mais direitos para todo mundo? Mas o Brasil, como está, está chegando no limite da questão orçamentária porque quase tudo é despesa obrigatória. Na questão previdenciária, as despesas têm crescido assustadoramente”, afirmou.
Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça e Segurança Pública — Foto: Rprodução/TV Globo
Sérgio Moro
Bolsonaro aproveitou a transmissão ao vivo no Facebook para destacar o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Até então responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, Moro aceitou um convite de Bolsonaro na semana passada para integrar o governo.
“O Sérgio Moro vai pegar vocês, abra teu olho, hein? Ele lá, agora, ao contrário do que uns estão falando aí, ele pescava com varinha. Agora, vai pescar com rede de arrastão de 500 metros. E nós queremos isso, o povo quer isso”, concluiu o presidente eleito.