Por: G1
O anúncio do Ministério da Educação de que uma questão de matemática do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018 será anulada por já ter aparecido em outro vestibular não afeta nem os candidatos que acertaram a questão, nem os que erraram. Segundo especialistas ouvidos pelo G1, o motivo é a própria metodologia do Enem: pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), a questão anulada deixa de existir, e o cálculo da nota é feito apenas com base nas demais 33 questões.
Qual questão o MEC anulou?
A questão anulada falava sobre a redução de pena, e exigia um cálculo matemático para chegar à resposta correta. Veja abaixo o enunciado.
“O artigo 33 da lei brasileira sobre drogas prevê a pena de reclusão de 5 a 15 anos para qualquer pessoa que seja condenada por tráfico ilícito ou produção não autorizada de drogas. Entretanto, caso o condenado seja réu primário com bons antecedentes criminais, essa pena pode sofrer uma redução de um sexto a dois terços.
Suponha que um réu primário, com bons antecedentes, foi condenado pelo artigo 33 da lei brasileira sobre drogas.
Após o benefício da redução de pena, sua pena poderá variar de
- a) 1 ano e 8 meses a 12 anos e 6 meses.
- b) 1 ano e 8 meses a 5 anos.
- c) 3 anos e 4 meses a 10 anos.
- d) 4 anos e 2 meses a 5 anos.
- e) 4 anos e 2 meses a 12 anos e 6 meses.”
Correlação da questão nas cores de prova
PROVA ROSA | PROVA CINZA | PROVA AMARELA | PROVA AZUL | PROVA VERDE | PROVA LARANJA |
180 | 170 | 150 | 163 | 150 | 150 |
Por que a questão será anulada?
O MEC anunciou a anulação da questão depois de o G1 revelar, a partir de informações dos professores do Curso Anglo, que ela já havia aparecido no vestibular 2014 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A descoberta foi feita na segunda-feira (12), durante reunião de professores do Anglo.
Segundo o MEC, uma apuração inicial identificou que, em 2012, um professor da UFPR elaborou a questão para ser incorporada ao banco de itens do Enem, uma espécie de “catálogos de questões” que, depois de revisadas e calibradas, ficam à disposição para entrar em uma edição da prova.
“A questão foi elaborada em 2012 para o Inep, por um professor que, à época, estava vinculado à UFPR. No entanto, posteriormente, em 2013, foi utilizada no vestibular da própria universidade, para ingresso em 2014, o que não deveria ter ocorrido”, afirmou o ministério, em nota.
Quem se prejudica quando o Enem anula uma questão?
“Não gera nenhum transtorno tanto para quem acertou quanto para quem errou”, afirmou o professor Renan Garcia Miranda, diretor do Curso Anglo. “Não sei em que baliza a questão vai entrar, se é [nível] 200, 300, 250, mas como não é a única questão que está balizando a correção, não tem problema, tem outras questões como ela para balizar a TRI.”
Os níveis representam a dificuldade de cada questão – um dos princípios da TRI é que o conjunto de 45 questões de cada prova do Enem tenham um equilíbrio entre questões fáceis, médias ou difíceis.
Segundo Tadeu da Ponte, professor e coordenador dos processos seletivos do Insper e fundador da empresa de avaliação Primeira Escolha, “no vestibular tradicional, que se conta acertos para dar o resultado, normalmente a anulação significa atribuir como resposta correta para todos os candidatos”. Assim, segundo ele, nenhum candidato pode alegar que teria acertado e se sentir prejudicado.
“Anular, no caso do Enem e da TRI, é considerar apenas as outras 44 questões para apurar as proficiências dos candidatos que prestaram o Enem. Então, vai ser como se a questão não tivesse caído no exame”, explica Tadeu.
“A única coisa que o candidato pode achar questionável é que tem candidatos que acertaram a questão e que gastaram tempo com ela. Então ela consumiu tempo de prova e é uma questão que no fim das contas é inválida.”
O especialista afirma que uma questão inválida “é sempre ruim para os candidatos”, mas que “o Inep está correto em tomar a decisão rápida e anular a questão”.
No Enem 2018, portanto, a nota da prova de matemática será calculada de acordo com os erros e acertos de cada candidato nas demais 44 questões, seguindo o padrão da TRI, que tem um sistema ‘antichute’ e dá pontos diferentes segundo o “percurso” de cada candidato.