Por: G1
Na quinta-feira (14), a situação dramática vivida em hospitais de Manaus chocou o país: pacientes estavam morrendo asfixiados, enquanto familiares e médicos corriam em busca por doações de cilindros de oxigênio. Com rápido aumento de internações por Covid-19, várias unidades de saúde da capital amazonense ficaram sem insumos básicos, como o oxigênio.
Entre os entraves para suprir o déficit estão a capacidade de produção dos fornecedores e as dificuldades logísticas do transporte de gás de outros lugares para Manaus. Veja os números a seguir.
Demanda de oxigênio
- Consumo em períodos sem pico de internação: entre 15 e 17 mil metros cúbicos por dia
- Consumo no pico das internações, 14 de janeiro: 76,5 mil metros cúbicos no dia
Capacidade de produção
- Produção das três fornecedoras da região (White Martins, Carbox e Nitron): 28,2 mil metros cúbicos diários
- Portanto, o déficit é de 48,3 mil metros cúbicos
O que foi feito nesta semana
- Aviões da FAB estão levando oxigênio de outros estados para Manaus; nos próximos dias, o volume deve chegar a 22 mil metros cúbicos;
- Na segunda (11), 50 mil metros cúbicos de oxigênio chegaram de balsa, vindos de Belém;
- A White Martins procura importar oxigênio da Venezuela;
- O governo do Amazonas requisitou oxigênio de indústrias do Polo de Manaus e algumas delas já anunciaram doações, como Whirlpool, Honda, LG e Electrolux. Do fim de semana até terça-feira, foram doados 43 mil metros cúbicos, segundo o Centro das Indústrias do Amazonas
- O governo federal vai construir 10 miniusinas nos próximos dias em Manaus, que vão gerar 5 mil metros cúbicos diários
- Artistas estão fazendo campanha por doação de oxigênio
- As ações emergenciais para trazer oxigênio ainda não tem suprido a demanda, e pacientes estão sendo transferidos a outros estados.
Dificuldades logísticas
- Capacidade de oxigênio que pode ser levado em um avião Hércules C-130, um dos maiores cargueiros do mundo: 6 mil metros cúbicos de oxigênio líquido
- Capacidade de oxigênio que pode ser levado em um Boeing cargueiro: 3 mil metros cúbicos de oxigênio gasoso
Entenda o déficit de oxigênio em Manaus — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Operação Oxigênio
O Governo do Amazonas e o Ministério da Saúde estão executando a “Operação Oxigênio” para abastecer os hospitais do Amazonas com o gás. Nesta sexta-feira (15), mais dois aviões Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB) carregados com cilindros de oxigênio chegaram a Manaus.
Segundo o governador do Amazonas, não falta oxigênio no mercado nacional, mas é difícil levá-lo até o estado. “A maneira mais rápida de chegar é através de avião, mas as únicas aeronaves que podem fazer isso são da Força Aérea Brasileira, e mesmo assim ainda trazem pouca quantidade, em razão da sua capacidade e do risco que é o transporte desse produto”, explicou Wilson Lima em nota.
Produção de oxigênio
A empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio do estado, disse que a demanda de oxigênio aumentou em cinco vezes nos últimos 15 dias, alcançando um volume de 70 mil metros cúbicos diários. Esse consumo equivale a quase o triplo da capacidade de produção da unidade da White Martins em Manaus, que é de 25 mil metros cúbicos por dia.
Para tentar aumentar a disponibilização do oxigênio, a White Martins fez um requerimento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) “para que a agência autorize a flexibilização temporária, em caráter excepcional, do percentual mínimo de pureza do oxigênio medicinal”. A porcentagem mínima seria alterada de 99% para 95%. A Anvisa autorizou a medida nesta sexta.
Gás do Polo Industrial de Manaus
Para atender a demanda, a secretaria de estado de Saúde requisitou, nesta quinta-feira (14), o eventual estoque ou produção de oxigênio de 17 indústrias do Polo Industrial de Manaus, como Gree Eletric, Moto Honda, LG Eletronics, Yahama Motor, Electrolux e Whirlpool. Segundo o governo, tudo o que for enviado aos hospitais será indenizado depois.
A Whirlpool, produtora de eletrodomésticos de cozinha e lavanderia, informou que doou 3 mil metros cúbicos de oxigênio para o governo do Estado. A companhia estuda ainda a compra de oxigênio de outros estados para doação, em parceria com a Eletros.
A Moto Honda da Amazônia doou 14 cilindros de oxigênio, sendo 12 unidades para a Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA) e duas para o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Segundo a empresa, a iniciativa é voluntária. Outras oito unidades devem ser doadas ao CEMA nesta sexta.
A LG e a Electrolux informaram que vão ceder insumos de oxigênio para a rede estadual de saúde, mas não detalharam o volume.
Instalação de miniusinas
Nesta semana, em visita a Manaus, o ministro da Saúde afirmou que o governo estava comprando 10 miniusinas geradoras de oxigênio, a pedido do governo estadual. Segundo ele, a ideia era instalar essas usinas em 4 dias, com capacidade para gerar 5 mil metros cúbicos.
Procurado pelo G1, o ministério não deu mais informações sobre a instalação dessas usinas complementares até a publicação desta reportagem.
Importação do gás
Nesta quinta (14), White Martins informou ter identificado a disponibilidade do produto em suas operações na Venezuela e que “neste momento está atuando para viabilizar a importação do produto”.
À noite, o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, disse no Twitter que colocou imediatamente oxigênio à disposição do Amazonas. Arreaza informou ter conversado com o governador Wilson Lima a pedido do presidente Nicolás Maduro. Lima respondeu, também na rede social: “O povo do Amazonas agradece”.
Gás escondido para especulação
No mesmo dia em que pacientes morriam asfixiados em hospitais, policiais apreenderam um caminhão com 33 cilindros de oxigênio em Manaus. Destes, 26 tinham oxigênio. Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), a empresa responsável estava vendendo o produto acima do preço. Um homem foi detido pelo crime de especulação.
Durante interrogatório, o homem informou que possui uma empresa de comercialização de cilindros de oxigênio, porém ficou com medo que a população invadisse a estabelecimento em busca do material e decidiu tirá-lo do local.
Policiais civis fizeram a escolta do material para abastecimento em quatro unidades de saúde da rede estadual.
Oxigênio foi apreendido e distribuído em unidades de saúde de Manaus. — Foto: Divulgação/SSP-AM
Responsabilização
Diante da crise na saúde no estado do Amazonas, diversos órgãos federais e locais apresentaram nesta quinta-feira (14) à Justiça Federal de Manaus uma ação civil pública, segundo o blog da Ana Flor. Na ação, afirmam que a responsabilidade é do governo federal e que cabe à União assegurar o fornecimento regular de oxigênio para os hospitais.
A ação foi apresentada por Ministério Público Federal (MPF); Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM); Ministério Público do Trabalho (MPT); Ministério Público de Contas (MPC); Defensoria Pública da União (DPU); e Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM).
O presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores nesta sexta-feira (15) que o governo federal fez a sua parte para ajudar o estado.
“Problemas. A gente está sempre fazendo o que tem que fazer. Problema em Manaus. Terrível, o problema em Manaus. Agora, agora, nós fizemos a nossa parte. Recursos, meios. Hoje, as Forças Armadas ‘deslocou’ para lá um hospital de campanha. O ministro da Saúde esteve lá segunda-feira e providenciou oxigênio”, afirmou o presidente na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada.