Por: BBC News
Quarenta pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas nesta terça-feira durante um tumulto no cortejo fúnebre do general iraniano Qasem Soleimani, morto na semana passada em um ataque dos EUA a Bagdá.
As mortes ocorreram em Kerman, cidade natal de Soleimani, no sudeste do Irã, onde o corpo do general seria enterrado na manhã desta terça-feira.
Por causa da tragédia, o sepultamento foi adiado — e um novo horário deve ser anunciado em breve, de acordo com as autoridades.
Estima-se que milhões de pessoas tenham saído às ruas no país para participar de uma série de procissões fúnebres em homenagem a Soleimani, considerado herói nacional no país persa.
Soleimani era apontado como o segundo homem mais poderoso do Irã, atrás apenas do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Os EUA viam o general como um terrorista e uma ameaça para as tropas americanas.
Seu assassinato escalou drasticamente a tensão entre os dois países, levantando temores de um conflito direto entre as duas potências.
Ainda não se sabe o que desencadeou o tumulto em Kerman, mas havia um grande número de pessoas nas ruas para o enterro do general.
Pirhossein Koolivand, chefe dos serviços de emergência do país, informou à imprensa iraniana que “213 pessoas ficaram feridas e 40 perderam a vida por causa da superlotação no cortejo fúnebre”.
Durante o funeral de Soleimani, as principais autoridades iranianas renovaram suas ameaças de vingança.
“O mártir Qasem Soleimani está mais poderoso… agora que está morto”, afirmou Hossein Salami, líder da Guarda Revolucionária do Irã, à multidão presente em Kerman.
O povo nas ruas gritava, por sua vez, “morte à América” e “morte a Trump”, de acordo com jornalistas.
Na segunda-feira, o aiatolá Khamenei liderou orações durante o velório de Soleimani, em Teerã, e chegou a chorar sobre seu caixão.
Estimativas não confirmadas da televisão estatal iraniana indicam que “milhões” de pessoas foram às ruas da capital iraniana. Mas o fato é que as multidões eram grandes o suficiente para serem vistas em imagens de satélite.
Quem era Qasem Soleimani?
Qasem Soleimani, de 62 anos, liderou as operações militares iranianas no Oriente Médio como comandante da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã.
Ele foi morto na última sexta-feira quando sua comitiva deixava o aeroporto de Bagdá, em um bombardeio ordenado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Soleimani apoiou o presidente da Síria, Bashar al-Assad, na guerra civil do país, ajudou o grupo militante xiita Hezbollah no Líbano e orientou grupos de milícias iraquianas no combate ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico.
Para justificar o assassinato do general, Trump afirmou que Soleimani planejava ataques “iminentes” a diplomatas e militares dos EUA.
O que aconteceu desde a morte dele?
Logo após a morte do general, o Irã prometeu uma “vingança severa”.
E, no domingo, Teerã declarou que não cumpriria mais nenhuma das restrições impostas pelo acordo nuclear de 2015 — que impunha restrições ao programa nuclear do Irã em troca da retirada de sanções econômicas contra o país.
Após as ameaças do Irã, Trump declarou que poderia revidar “talvez de maneira desproporcional” em caso de retaliação pela morte de Soleimani.
O presidente americano chegou a afirmar que os EUA tinham uma lista de 52 locais iranianos que poderiam ser alvos, inclusive alguns de grande importância cultural para o país persa.
Um ato como esse poderia ser considerado crime de guerra. Mas, de acordo com o secretário de Defesa americano, Mark Esper, os EUA “seguirão as leis do conflito armado”.
Se houver retaliação, é provável que ela seja comandada por Esmail Qaani, vice de longa data de Soleimani. Após o assassinato do general, Qaani se tornou o novo chefe da Força Quds.