A mesada pode cumprir algumas finalidades importantes: mostrar que o dinheiro é limitado, passar valores e princípios da família e estimular a criança a praticar a autonomia. Porém não basta fornecer o dinheiro. Para garantir que o recurso terá função educativa, é preciso fugir de erros comuns, que você conhece a seguir.
As informações são dos consultores Ana Paula Hornos, autora do livro “Crise Financeira na Floresta” e da coleção didática “Educação Financeira e Valores” (editora FTD); Ana Paula Pregardier, autora do e-book “Finanças É Coisa de Criança”, e Reinaldo Domingos, autor do livro “Mesada Não É só Dinheiro” (editora DSOP).
Errar no valor
Crianças a partir de sete anos podem receber mesada. Geralmente, já sabem ler, escrever, fazer contas e –o principal– pedem para comprar coisas com mais frequência. Porém, é preciso acertar no valor. Dos sete aos dez, dar um real por ano de vida, a cada semana, é uma boa estratégia. A partir dos dez, é interessante apurar os gastos que o filho tem antes de estabelecer o valor, confrontando-o obviamente com a realidade financeira da família. Segundo os especialistas, se você der muito mais do que o necessário, ele desenvolverá a noção de que o dinheiro vem fácil, gastará sem critério e poderá se tornar consumista. No entanto, se der muito menos, ele provavelmente se sentirá desestimulado a poupar para conquistar seus sonhos e, no futuro, pode desenvolver uma relação obsessiva com o dinheiro, tornando-se um adulto avarento. “A mesada tem de ser justa nos dois sentidos. Deve ser suficiente para a criança arcar com os gastos que ficaram sob a responsabilidade dela e também limitada, de modo que ela aprenda, desde cedo, a estabelecer prioridades e a fazer escolhas”, diz Ana Paula Hornos.
Não estabelecer as responsabilidades da criança
Desde o início, a mesada deve ser dada com critério, para que tenha realmente um caráter educativo. Assim, os pais precisam estabelecer o que a criança vai comprar com o dinheiro que recebe e o que ainda ficará sob a responsabilidade deles. Tão importante quanto isso é manter, no dia a dia, o que foi combinado entre as partes. Pode-se estabelecer, por exemplo, que a criança arque com os gastos menores que fazem parte da rotina, como o lanche na cantina da escola. Porém, ao fazer isso, os pais não devem mais pagar pela refeição.
Dar dinheiro antes da data estabelecida
Ao pegarem o dinheiro na mão pela primeira vez, é natural que as crianças cometam erros e tomem decisões equivocadas. Mas é preciso deixar que aprendam com as consequências de seus atos para que, em uma próxima vez, façam escolhas diferentes. Os especialistas reforçam que, ainda que a criança tenha de passar por um aperto momentâneo, os pais precisam resistir à tentação de cobrir o que ficou faltando, mesmo que a iniciativa seja tratada como um empréstimo. “Melhor cometer um erro e passar por um aperto financeiro com a mesada do que fazer isso na vida adulta e ficar no negativo do banco”, diz Ana Paula Hornos. Nesses momentos, a criança também deve ser instruída a não usar o dinheiro que tem guardado, reservado para os sonhos. Deve antes aprender a ter um padrão de vida adequado à sua mesada.
Confundir mesada com presente ou salário
Crianças não precisam receber mesada, mas podem se beneficiar desse recurso para aprender a lidar com o dinheiro desde cedo. Porém, a concessão da mesada não inviabiliza a entrega de presentes à criança, em ocasiões especiais, para comemorar ou reconhecer uma conquista ou trabalho bem feito. Assim, se a criança quer um tablet, por exemplo, os pais podem explicar que esse será um presente, em uma data comemorativa. Porque se a criança tiver de poupar por um tempo muito maior do que seis meses para conseguir o que deseja, provavelmente ficará desmotivada e acabará desistindo no meio do caminho.
Decidir pela criança
Um dos principais objetivos da mesada é auxiliar no desenvolvimento da autonomia. Por isso os pais não devem direcionar a criança, o tempo todo, em relação à utilização do próprio dinheiro. Podem, sim, conversar a respeito, tirar dúvidas ou orientar quando ela pede apoio. É interessante estimular a criança a poupar parte da mesada e também a doar, se esse exercício estiver de acordo com os valores dos pais, mas a decisão deve ser dela. “O ideal é acompanhar e até questionar a criança sobre as escolhas que faz, mas deixar que ela tire as próprias conclusões. Seu filho tem de decidir, pensar, refletir e escolher. É isso o que gera independência”, afirma Ana Paula Pregardier.
Usar a mesada como barganha
A mesada não deve ser tratada como prêmio ou castigo. É importante que a criança estabeleça objetivos para o seu dinheiro e, com planejamento, seja capaz de alcançá-los. Ao deixar de fornecer a mesada ou ao dar um valor menor como punição, os pais acabam atrapalhando essa programação. Como consequência, a criança pode se sentir desestimulada a continuar poupando. Por outro lado, usar a mesada como um salário, remunerando as crianças por atividades realizadas em casa, é um erro. “Criança não trabalha, portanto, é preciso ter cautela ao usar a recompensa do dinheiro para deveres ou tarefas. A recompensa que as crianças realmente esperam é afeto e reconhecimento”, afirma Ana Paula Pregardier. Quanto às tarefas de casa, em vez de pagar, ensine ao seu filho o quanto ele pode aprender e crescer desenvolvendo essas atividades, reforce a importância dessas contribuições à família e à sociedade.
Não inserir a criança na vida financeira da família
A mesada é uma excelente ferramenta, mas sozinha não ensina educação financeira. Deve ser tratada como mais um recurso educativo, em um universo em que há outros pontos de contato com a realidade do orçamento da família. Levar a criança ao seu local de trabalho e ao banco, para sacar dinheiro, são maneiras de mostrar que os recursos financeiros não caem do céu. Igualmente importante é deixá-la participar das compras da família, para que veja os adultos tomando decisões de consumo, dando o dinheiro, recebendo o troco etc. “Uma brincadeira que funciona com os menores é representar, com bolinhas de papel, o orçamento e os gastos da família. Os pais podem mostrar que, para comprar determinada coisa, precisam tirar as bolinhas de um local, alocando-as em outro, e que isso faz parte do dia a dia”, fala Ana Paula Pregardier.Fonte Uol