O tão propagado corte de ministérios no governo do presidente interino Michel Temer, que a princípio atingiria dez pastas, acabou não sendo alcançado. O resultado é bem mais modesto: são 26 os ministros de Temer, apenas seis a menos que os de sua antecessora no cargo, a presidente afastada Dilma Rousseff.
Para completar, semana passada, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou a recriação de mais um: o do Desenvolvimento Agrário. Serão então 27 pastas, uma diferença de somente cinco ministérios em relação ao governo Dilma.
Há dois casos entre esses 26 que o próprio Palácio do Planalto omite. Seus retratos não aparecem na galeria de ministros da página oficial do governo na internet. Mas, para todos os efeitos, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, continuam tendo status de ministros, com todas as regalias que o cargo traz. Isto porque, quando editou a Medida Provisória 726, em meados de maio, Michel Temer determinou que ambos continuarão sendo ministros até que seja aprovada uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) lhes concedendo foro privilegiado.
Cerca de três meses depois, a PEC sequer foi enviada ao Congresso Nacional. E não há pressa para isto. Interlocutores de Temer dizem que a ideia é usar a medida para também determinar autonomia técnica para o Banco Central. Mas, com a agenda legislativa cheia, o envio da PEC ainda pode demorar para além do julgamento final do impeachment. Quando chegar, terá de passar pelo crivo de três quintos dos senadores e deputados, em dois turnos. O anúncio de que a AGU e o Banco Central deixariam de ser ministérios foi uma manobra para inaugurar o governo interino mostrando um número mais enxuto de pastas, passando a imagem de austeridade na máquina pública. No entanto, além de mantê-los, Temer ainda devolveu o status de ministério ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e recriou o Ministério da Cultura, depois de sofrer pressões por tê-lo extinto.
No final das contas, após idas e vindas, o saldo foi uma redução bem menor que o previsto e mais espaço para acomodar aliados do amplo espectro de partidos que decidiu apoiar o impeachment de Dilma.A recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário ocorre para atender um dos partidos da base de Temer, o Solidariedade. Desde maio, o governo anunciou que a pasta seria recriada e comandada pelo Solidariedade que, entre outros serviços, teve seu presidente, Paulinho da Força, escalado para negociar a desocupação da fazenda que pertence a um empresário ligado a Temer. Ao lado dos sucessivos reajustes salariais concedidos a servidores públicos nesses dois meses de governo interino, o número de ministérios é mais um sinal de que a prometida austeridade com as contas públicas não saiu do papel. O governo contesta e afirma que há outras formas de economizar e reduzir. Fonte bahia econômica